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O Herói rascunhado

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             O exercício da honestidade consiste no simples temor da possibilidade de uma eventual punição caso nossos atos ilícitos, sejam estes de maior ou menor nível de ignomínia cívica, seja evidenciado. Escutei de meu pai em certa casualidade, não lembro com exatidão qual afronta provocada e menos ainda a época, podendo aqui afirmar que tenha sido dentro da cronologia do período em que vigorava a adolescência, “caso faça algo errado, não olhe nos meus olhos, não irei na delegacia se lá estiver”, após escultar aquele ultimato, mais semelhante a uma condenação, percebi que minha bondade tem com alicerce o medo, com pouca porcentagem de qualquer conceito que abeirar-se do que entendo hoje sobre valores humanos. A vigilância e a punição, num pendular tênue, equilibrando vergonhas, sustentando a milenar ilusão humana entre o bem e o mal. Às vezes me debruço a pensar sobre “como seria o homem civilizado sem a vigilância e a punição”. Talvez um dia eu e...

As coisas e os seres

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         Algumas cenas me comovem; outras despertam repulsa; tantas mais apenas observo. Mas existe determinada porcentagem, estas na qual me debruço em rememora-las com ingênua obsessão sempre que me deparo com outra cena com semelhante significado, as cenas que despertam algum tipo de questionamento sobre nossa configuração como humanos habitantes da cronologia presente. Creio que todos carregam algum tipo de obsessão: em maior ou menor grau, patológicas ou restritas aos pensamentos. Encucar com cenas é minha perdição, perdi a esperança se algum dia amenizo de alguma forma. Lamento. Se questionar fosse função socia, e o “questionador” um profissional remunerado. Talvez hoje tivesse desfrutando de algum tipo de conforto financeiro.         “Casa das bolças” não tinha esse nome na fachada, mas era assim que todos a chamavam. Vendia, como apropria alcunha orienta, bolças de tantos formatos, modelos, características, consciência, que melho...

As memórias do centauro

     Dos muitos flagelos que nos perseguem, o ato inconsciente da comparação com os outros sempre foi, é e será uma constante a ser ressignificada. Vista a violenta desolação que essa postura pode provocar quando reagimos de alguma maneira, é sempre pertinente lembrar dos episódios que tive a oportunidade de vivenciar.        Acho que não foram poucas as vezes que relatei e que, assim como hoje, continuarei relatando casos em que me deparei com as barreiras simbólicas, invisíveis, que se manifestam no discurso coloquial falado e que, em muitos casos, não conseguimos detectar. Faço isso exaustivas vezes, quase uma obsessão em tom de patologia. Tudo o que é intangível e, em seus significados, nos escapa ao toque, de alguma maneira afeta nossa percepção sobre a maneira como somos interpretados. Não deveria isso fazer tanta diferença, mas, de uma forma ou de outra, nos afeta, excluindo o que verdadeiramente somos.         A casualidade ...

As memórias do centauro

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                                                A carne do ventre morto      Concluindo hoje a escrita do sexto capítulo de um novo romance de minha autoria. Talvez existam outros com uma proposta estrutural de texto semelhante, mas insisto na identidade única que este possa trazer aos possíveis e raros leitores. Narrativa em primeira pessoa com três personagens, numa imbricada e escalonada trama, estes reservados em suas falas e introspecções. “A carne do ventre morto” será seu nome. Quando esse título veio à mente de imediato me afeiçoei. Toda a narrativa acontece numa clínica pediátrica, dura os exames de ultrassonografia para colher imagens e condições de saúde do feto, ainda no meio da gestação de uma das protagonistas.       ‘A carne’ representado por Edgar Queiroz: desfrutou de considerável conforto advindo do dinheiro ...

A linha invisível

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          Dentre as incontáveis ideias desprovidas de qualquer sentido que costumo, frequentemente, ter, (vezes no meu estado de vigília, vezes no reino onírico) confeccionar um livro de narrativas sobre as uma “invisível linha”, simbólica, para ser melhor entendida. Aqui é conveniente mencionar que a chamadas “forças simbólicas”, que tanto regem nossas vontades, decisões, comportamento, atitudes e conclusões, sempre serão um dos temas mais abordados em qualquer conversa que venhas a ter quando o assunto for “distinção de classe”. Essa “linha invisível”, que também pode ser imaginada como uma parede, um portão, uma viela, a extensão de um buraco em trincheira, uma delineação pintada no chão. Haverá quase sempre um elemento solido no qual esta força invisível se apossará para então construir seus significados em nossas mentes. Não nos esqueçamos que todas estas forças simbólicas fazem parte de complexas estruturas, construída ao longo da evolução humana, e a...

Anômalo Social

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            Dentre os muitos valores de convivência social, a prudência sempre foi uma orientadora que teimo em negar-lhe a devida atenção. irá nos instruir a deixar as fatalidades e desventuras passadas onde sempre pertenceram: na caixa dos objetos obsoletos, trancados com cadeado enferrujado, colocado na estante das coisas entediantes, na prateleira mais inascível, com o seguinte concelho, que relembras experiências passadas apenas serve para evitemos repeti-las, mesmo que muitas vezes insistamos em sermos criaturas que repetem erros (é mister para mim relembrar as sensações e os momentos que vivi, desligar-me do presente e retornar a essa inexistência chamada passado, me transporto despudoradamente ao escutar cinco ou seis notas de qualquer melodia de qualquer música da época, um soundtrack para cada lembrança, mergulho nesse voluptuoso estado da pedra, morto para o tempo presente, e onde o eterno carrasco dos valores humano é incapacitado de concretizar...

Descrente

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             Fogem-me da memória os períodos da vida que eu tenha sido disciplinado com o cultivo de alguma crença. O mais provável é que tais períodos nunca tenham de fato existidos. Tentativas houve. Iniciativa de terceiros, parentes e conhecidos que, quando não cômicas e desajeitadas, imputavam ou amplificavam os nossos tão conhecidos medos inconscientes. Por tradição católica, fracassei majestosamente ao tentar completar o ensinamento do catecismo: era tomado por um deprimente enfado, torcia para que a professora fosse acometida por qualquer imprevisto (Deus me ignorava por completo), deseja estar em qualquer lugar deste universo, menos naquela sala sacrossanta e claustrofóbica (Deus continuava me ignorando). Passava mais tempo olhando na direção da janela, observando e analisando cada minúsculo detalhe sobre a paisagem que hipnotizavam minhas pálpebras, do que fixando atenção nas palavras que a mulher de voz e sorrisos pálidos, proferia....