As memórias do centauro
A carne do ventre morto
Concluindo hoje a escrita
do sexto capítulo de um novo romance de minha autoria. Talvez existam outros
com uma proposta estrutural de texto semelhante, mas insisto na identidade
única que este possa trazer aos possíveis e raros leitores. Narrativa em
primeira pessoa com três personagens, numa imbricada e escalonada trama, estes reservados
em suas falas e introspecções. “A carne do ventre morto” será seu nome. Quando
esse título veio à mente de imediato me afeiçoei. Toda a narrativa acontece
numa clínica pediátrica, dura os exames de ultrassonografia para colher imagens
e condições de saúde do feto, ainda no meio da gestação de uma das
protagonistas.
‘A carne’ representado por Edgar Queiroz: desfrutou de considerável conforto advindo do dinheiro dos pais, carregado de ressentimentos por não ter se tornado a sua família almejava, vive um conflito interno desde do dia que Débora Aragão ‘O ventre’ lhe mostra o resultado do teste de gravidez, pois mesmo não demonstrando para todos do seu entorno, vê a existência do seu filho como um gatilho de uma possível ruína imaginada de sua vida. O nascimento dessa criança irá prejudicar a trajetória dos planos que construiu para si. Débora, ao contrário, sempre quis ter filhos, mas não com Edgar. Ficava com este para tentar fugir ou esquecer um antigo caso do seu passado. Com a notícia da gravidez, ambos passaram a viver uma aversão silenciosa e gentil para não perturbar a ordem de uma relação de aparência. E no meio dessa contenda invisível ‘O morto’ representada pela voz narrativa do feto, que do meio de sua gestação, e dentro da placenta, narrando sua percepção de sua existência e do mundo que estava para conhecer.
São abordadas no romance temáticas como: a
inexistência do nosso livre-arbítrio, a casualidade, inevitável, como maior
terror antagônico do ser humano, a fragilidade dos valores simbólicos cultivados
pelos personagens, o processo autodestrutivo moroso, corroendo e dilacerando o equilíbrio
emocional das personagens, afunilando-os em desespero e angústia sufocante sem
que os mesmos percebam ate culminar na ausência de lucidez. Em seus diálogos internos
resgatarão ressentimentos, arrependimentos, frustrações, vergonhas aviltantes
que moldaram seus inconscientes. Ruminações que os conduzirão a uma amalgama de
um desfecho trágico-irônico. Que não destruíram estes seres feitos de emoções
os tornaram criaturas sucumbidas na culpa.
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