Concerto de Egberto Gismonti no Recife (I parte)
Estava esperando as cortinas se abrirem. Engano. Não havia cortinas. Pois esperava, não por minha verdadeira vontade, o excesso em meio à simplicidade – assim como são os pensamentos perdidos entre muitos pensamentos. E aquelas cortinas que imaginei, de um anfiteatro isolado, perdidos entre ruas estreitas e escuras – o comércio dormia -, eram na verdade as portas da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Mas é certo pensar que naquele vespertino vestido de noite aquela igreja já não mais focava como igreja? Que o profano e o sagrado tramitavam numa acústica quase perfeita, de algarismos melódicos, como fantasmas espreitando outros fantasmas? Tudo se misturava. Não havia formas definidas. Abstrato como deveria ser, silencioso como as almas dos “Homens Pretos”, que entre suas paredes deslaçavam, acordariam de seu sono para povoar aquele salão carregado de instrumentos intrusos, porque eram suas realmente. Não acordariam aborrecidos com os aplausos. Pois aqueles aplau