Concerto de Egberto Gismonti no Recife (II parte)
“A frase, que eu pedi que meu axiliar
escrevesse, estava lá, no quadro- negro do vestuário:”
Sérgio Sant’Anna
Posso considerar que em
setembro de 2010 tive uma das mais extraordinárias (pesando neste texto uma
carga de léxicos extravagantes) experiências incompletas da minha exagerada
vida de estragos com minha própria humanidade. Mas sejamos “exagerados” como
disse certa vez um poeta desconcertado da geração 80, que tinha tudo, mas preferiu
não ter nada ale da sua poesia “exagerada”. Se seguir rumos adversos, voltemos
para as portas da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde ao
mesmo tento que ouvia o Egberto regendo seus dedos nas teclas do piano, escutava
também duas pessoas ao meu lado que ainda não conhecia e nem tão pouco haviam
tido contato com a música do compositor. Conversavam em voz alta, de amplitude
quase extravagante, a misturar-se com as melodias da música que não parava,
pois o concerto não podia parar. É certo e inevitável que uma súbita irritabilidade
venha, do nada, e para o nada deve voltar. Pois não teria sentido ne frente
aquelas portas uma disputa retórica sobre os benefícios do silêncios. E que se
faça uma pergunta: “...estão gostando da a apresentação do Egberto?”. “Sim,
muito!”, responderam eles e logo após veio seu silêncio e em seguida o intervalo
entre as músicas. Dialogamos um pouco e os conversadores acabaram admitindo que
não conheciam os trabalhos do compositor. Descobri ali, naquele instante dois
usos do conhecimento: aquele que nos torna próximo das pessoas e aquele que nos
afasta. Sim caro leitor, pode acreditar, mas afastamos por conhecermos, ou por acharmos
que conhecemos algo. Se eu conhecia a obra do Egberto, porque não compartilhar
com os colegas faladores, e se estavam dispostos a ouvirem meu delírios musicais,
então não seria simples colegas, e sim amigos em potencia, como costumo dizer.
E foi isso que aconteceu, em uma reciprocidade, aprendemos a serem amigos, não
havia conhecedor ou desconhecidos, só as notas alegres como existem nas belas
amizades, as notas tristes como existem nas belas amizades, enfim, existia
notas, existia conhecimento, existia amigos. Talvez, com toda a incerteza do “talvez”,
se o conhecimento da obra do Egberto fosse uma ‘retorica eu conheço, você não
conhece”, seguida de mais silêncio, hoje, a imagem dos bem aventurados amigos
não seria nada mais, nada mesmo do que um arrependimento. Fim do segundo ato,
os Homens Pretos iram descansar.
Edson Moura: 09/09/2010
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