O Barnabé de Brasília
Porque é comum ao ser
humano questionar sobre o amanhã sem se inteirar plenamente do hoje e, menos
ainda, considerar o já existido no ontem; que são poucos aqueles que se atêm na
contemplação dos minutos compondo horas, os dias fazendo meses, os anos
escrevendo a história.
E mesmo a história, são
mínimos os que, sobre ela, se deixaram ficar em reflexão, pois temos o mal
costume de, ao comtemplarmos uma obra – qual seja – não consideramos quem (ou
quais) a fez (ou fizeram). O gigantismo de uma pirâmide, por exemplo, cria o
mistério, o misticismo, a solidão de uma era, mas certamente não nos leva a
pensar os blocos de pedra que a fizeram, se pedra é apenas pedra. No entanto,
quando essa mesma pedra é trabalhada pela mão do homem nem bloco de faces
perfeitas, ai inicia- a primeira transformação que – junto a tantos outros
blocos – dão forma e resultado a uma obra de arte eterna; sem contar que esquecemos
(ou não lembramos mais) daquele que o projetou e nem dos que a construiu. Por esse
motivo é que sabemos ver as coisas, embora sejamos míopes no enxergar da própria
razão daquela existência.
Flavio Bruno Von
Sperling se deu ao trabalho de escriba entre nós. Como um Barnabé, viveu Brasília
na total concepção da palavra, posto que lá estava no primeiro momento em que,
saída dos projetos Lúcio Costa e Niemeyer, a capital ganhava estrutura física –
“pedra sobre pedra”- na construção de um momento ao novo Brasil, no cerrado da
sua própria solidão geográfica e a desnudar-se meio aos índios e animais
selvagens para, finalmente, mesmo que esta não se concretize por completa vestir-se
de esperança e de progresso.
O Barnabé Flávio, ao escrever suas memórias,
nos permite viajar com ele no tempo das simples memórias se, para cada
(re)encontro com uma pessoas que lhe chegavam á mente, anotara pormenores: uma
fala, um gesto, um causo, uma qualquer coisa que fique na emoção de qualquer
dia poeirento, porem gravados no coração de um homem sensível e múltiplo;
cantor lírico e membro de família importante con(vivendo) com pessoas tão
desiguais e dispares envolvidas num só ideal daquele que, em mil dias, almejava
fazer a maior obra deste século.
E por não pretender nos
largar apenas um livro de memórias apenas na cronologia dos fatos, eis O Barnabé
de Brasília, em síntese, uma hilariante recordação de um verdadeiro Barnabé que
soube, na sua altivez e simplicidade, amealhar os momentos difíceis, os
momentos jocosos e o dia-a-dia de um cotidiano em que a rotina de um árduo
trabalho não ficou apena sob a poeira de uma obra de ebulição no Planalto
Central, mas em pó de ouro no sentimento deste escritor que agora que fez um plantio
nos tempos de suas emoções confessas.
Como já disseram que o essencial não se vê com
os olhos , é preciso buscar com o coração, Flávio Bruno Von Sperling viu a “pirâmide”
mas, antes, enxergou as pedras do caminho erguendo um monumento nacional. O
Barnabé de Brasília será, para sempre, um aplauso nosso, na raríssima
oportunidade que nos é dada um re/visão aos ontens de nosso país. Um livro para
ser lido e pensando em sua dimensão.
Maxs
Portes
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