Cântico Voraz do Precipício



                                                                                                             

      
Quando perguntamos sobre a obra “Cântico Voraz do Precipício”, do escritor Bruno Gaudêncio, podemos responder que se tratava de um livro em que as paisagens, sombreadas pelos misticismos nos quais sombreiam a morte, com experimentações no diálogo dos personagens, impregna sua linhas quando o leitor se vê diante da construção de dos contos que constitui a obra. Na verdade, estamos diante de um livro intenso e reticente, aos moldes balzaquianos. Mas que seja dito em primeira análise: a missão do autor foi concluída, enxergou no obscuro aquilo que existe de belo na literatura.  Cheio de tensões, críticas entre o homem e o seu meio, entre este com sua pisque. Um meio social vindo da criação, enfim, um meio natural e hostil. E este alça o leitor em sua paginas.
      Visto aqui, é quase imprescindível para o leitor atento o hábito quase natural de comparar fatores próximos. Logo na estirpe de “Cântico Voraz do Precipício” é possível notar junções de sentido, aonde ambientação penetra no imaginário do leitor, esta alquimia narrativa: “Crescia e a lua clara despertava as lamparinas e candelabros da casa. Meninos e animais assustados com a tal luminosidade excessiva. O gado mugia desesperado. Cachorros rosnavam alucinados. Bodes na serra berravam e pareciam que pediam ajuda em forma de um coral e lamurias.” Para quem cultiva os assombros dos sons noturnos, e de gostarem do fato de estes serem uma formula de apreensão quase em simetria, é neste momento que ao ler que em a deriva de suas páginas surge um espanto advindo das relações de dois escritores que atentaram para a mesma vivencia, em “A última lágrima da Carpideira”, mostra uma cativante aproximação de um jovem escritor Paraibano com as incursões literária do autor da seleta de novelas “O delicado abismo da loucura”, em seus sentimentos de fatalidade de regional obscurecido pelo próprio meio que circundam.                                        
      Duas temáticas podem ser percebidas em sua obra: as adversidades em relação ao meio e as adversidades em relação ao outro. Bruno Gaudêncio trabalha nas esferas do social e do universal, do particular (a psique dos personagens) e do coletivo. Embarca em um regionalismo intrico e nas míticas criadas no inconsciente do leitor, em seu ‘Cântico’ ou Cânticos é diminuir a rigidez de uma realidade latente e aproximar o leitor das abstrações do imaginário, então, nesta obra, o nordeste será meramente o palco de dialetos invisíveis, uma vez que os personagens estão e concomitância com o que existe de mais espontâneo em fato literário, estarão em voga a voz do autor, da obra e do leitor, sobretudo em geração de escritores em constante conflito com as mudanças latentes; sugerindo a mescla do regionalismo rustico com a atmosferas urbanas.      
       Esta obra de Bruno Gaudêncio é produzida em 2011 e está inserida em um contexto em que nomes consagrados da nova geração de escritores da Literatura Brasileira, pertencentes à “Geração 00”, fazendo de sua obra um instrumento de pequenos ralatos de uma “Metafísica da vida cotidiana”. Para não se perder em face dos múltiplos aspectos dos fenômenos da realidade vai desvendando, o conhecimento humano precisa discernir no real, a cada passo, a unidade dialética presentes no conto “Corpo da Solidão”, da essência e do fenômenos visíveis aos olhos do leitor. Por isso, o autor insiste no caráter necessariamente indefinido do nosso conhecimento sobre os mistérios da solidão. Na passagem transcrita, o narrador percebe “a vertigem exterior e interior” por ocasiões. Estando só na imensidão do espaço, sente-se como uma onisciência num mundo falido e, dessa forma, pensa em reconstruir o mundo.

     Cântico Voraz do Precipício – que é comparado a uma metáfora da ausência de nós mesmos – composto por capítulos autônomos formam uma estrutura narrativa um tanto quanto “seca” e intensa. O livro apresenta uma estrutura narrativa que pode ser considerada aberta. Bruno Gaudêncio não é um narrador que conta apenas os fatos que acontecem. Ele dá voz aos personagens para que cada um. Se coloque enquanto indivíduos naqueles meios adversos. Daí se dizer que os elementos naturais ganham personificação, não menos humanizados, já que colocam a sua visão com relação a sua condição no meio. Em contrapartida, os personagens são transladados de âmbitos abstratos, tornando-se quase supranaturais, conflituosos e pensamentos devaneados. Incapazes de articular seus pensamentos, os personagens podem ser facilmente comparados a um espirito souto, a reproduz suas angustias. Esta é a razão pela qual os personagens não abandona a realidade: alguém precisa acreditar na possibilidade de reinvenção da vida. Então, eles permanecem a vida com o excesso de espaço, como o deus de si mesmo. O narrador precisa desse “excesso de espaço” para reencontrar-se; a solidão que permeia os “Cânticos”, a solidão que lhe proporciona uma parcela de consciência da inquietação de seu ser. Sim, apenas uma parcela, porque o homem não pode conhecer-se totalmente. O conhecimento total é contrário à natureza humana, que é imprevisível, dada a sua complexidade. Na aldeia abandonada do “eu”, o narrador está só. Não há convivência social no presente, momento em que ele se recorda de situações passadas e estabelece perspectivas futuras. Por isso, estando só em um lugar privilegiado. O leitor pode pensar na condição de seu ser, ou na inquietação de seu ser e de sua existência.
      


         “Cântico Voraz do Precipício”, do escritor Bruno Gaudêncio é leitura recomendada para todos aqueles que desejam conhecer e aprofundarem com os autores que estão formando cenário literário atual. Romance sintonizado com literatura contemporânea dos autores brasileiros.   

                                                                                                  Por Edson Moura







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